No primeiro Paraibano de sua história, Raposa dá passo inicial rumo ao hexa
Campinense vence o chamado "Campeonato Tartaruga". Era o primeiro de seis títulos, em que o clube Rubro-Negro usou na soma de todos eles apenas 48 jogadores e 6 títuos.WITTER
Hoje, entre os novos raposeiros e os mais experientes rubro-negros, pode até se discutir qual o maior título conquistado pelo Campinense. A Copa do Nordeste de 2013 é apontada pela maioria como a principal conquista. Mas isto não muda uma verdade inquestionável: a década de 1960, a primeira do time efetivamente como clube profissional de futebol, continua sendo o período mais glorioso dos 100 anos do clube.
Depois de cinco temporadas disputando amistosos e competições municipais como time amador; após ter sido "apresentado" ao Brasil em excursões; depois de o médico Gilvan Barbosa e seus aliados terem transformado o Centro Esportivo Campinense Clube numa realidade, conseguido o apoio suficiente para superar pensamentos divergentes e assim profissionalizar o departamento de futebol do clube, a década de 1960 finalmente começou.
Eis que, como nem os mais românticos roteiros de filmes poderia ter previsto, o Rubro-Negro encontrava-se com a glória. Justo nos seus primeiros anos de profissionalismo de fato.
Na época, o Campinense Clube era presidido pelo industrial Edvaldo do Ó, figura até então alheia ao futebol.
- Em Campina, naqueles tempos, futebol era tido como coisa de malandro, de vagabundo. Meu pai (Eudes do Ó) foi atleta amador e profissional do Campinense, mas jogava escondido do meu avô - conta Eudes do Ó Filho, sobrinho de Edvaldo.
Mas não há como passar pelos anos 1960 sem contar a história de Lamir Motta. Ex-atleta e sócio do clube, o advogado foi nomeado por Gilvan Barbosa como diretor de futebol da equipe aristocrática.
Lamir Motta, ex-presidente do Campinense (Foto: Phillipy Costa / GloboEsporte.com/pb)
E foi com a ajuda de Lamir, que o Campinense montou um time atípico. Com muitos jogadores oriundos dos campos de pelada de Campina Grande, mas também com alguns reforços vindos do Paulistano, do rival Treze, e do Náutico do Recife. Foram todos levados para o Estádio Municipal Plínio Lemos. E lá, o plantel treinaria para o Campeonato Paraibano de profissionais de 1960, o primeiro da história do clube.
O time base tinha Biu, Assis, Cido, Salomão, Luís Carlos e Massangana; Martinho, Delgado, Zezinho Ibiapino e Claudinho; Géo, Araponga, Nogueira e Tonho Zeca.
- Gilvan Barbosa, que era um entusiasta do futebol, passou um pouco da responsabilidade para formar e administrar o time para mim, e para nomes como Raiff Ramalho, Ailton Sabino, Menininho e tantos outros. Era uma grande diretoria - lembra Lamir Motta.
A temporada não começou bem. Dois empates (1 a 1 e 2 a 2) e uma derrota (1 a 0) para o Treze, que ficou com a Taça Estrela do Mar e o Mistão-59.
Contudo, a partir de julho, o ano 1960 começaria a ficar na história raposeira. Oito times, sendo apenas dois de Campina Grande (Campinense e Paulistano), brigariam em dois turnos pela conquista do certame estadual.
Íbis, Santos, Auto Esporte, Botafogo-PB, Estrela do Mar e Comerciários. Nenhum dos outros seis concorrentes de João Pessoa foi páreo para o time comandado por Buarque Gusmão. O Treze preferiu os amistosos interestaduais e não disputou do campeonato.
Foram 14 jogos no Campeonato Paraibano, com o primeiro turno conquistado pelo Campinense de forma invicta. Ao todo, 13 vitórias e uma derrota apenas, para o Botafogo-PB (1 a 0), no returno.
O setor ofensivo do Rubro-Negro não deu descanso às defesas. Ibiapino (18), Delgado (14) e Martinho (9) foram responsáveis pela maioria dos tentos assinalados. Só no estadual, nas 14 rodadas, o ataque balançou as redes 49 vezes, fora os amistosos realizados em paralelo.
Além do artilheiro do certame, no caso Zezinho Ibiapino, o Campinense aplicou a maior goleada: 11 a 0 nos Comerciários de João Pessoa.
A competição foi longa. Só acabou em 1961. As equipes enfrentavam dificuldades financeiras para viajarem e as rodadas iam sendo seguidamente adiadas. A crônica esportiva da época até batizou a disputa de "Campeonato Tartaruga".
- Naquele tempo, a competição acontecia simultaneamente aos amistosos. E era justamente nos amistosos que a gente observava os jogadores para contratá-los. Tivemos a felicidade de armar uma boa equipe e conquistamos seis títulos seguidos, o que dificilmente se repetirá. Agora, o principal detalhe é que fomos hexa utilizando apenas 48 jogadores em seis anos. Aí eu fico vendo como está o futebol hoje, com os empresários empurrando jogadores aos times. Só faço lamentar - comentou o ex-dirigente.
Em um dos cômodos de sua residência, em Campina Grande, Lamir Motta tem até hoje mais de mil artigos sobre o Campinense, entre pequenos e grande objetos e documentos históricos.