1964

No centenário de Campina Grande, o Campinense virava pentacampeão

Rubro-Negro venceu na final o Treze, em jogo histórico no Estádio José Pinheiro

Ainda em dezembro de 1963, através de propaganda impressa e divulgada através dos jornais, o Campinense Clube prometia um 1964 de festa. A nova campanha para venda de títulos patrimoniais do clube trazia a Raposa com um audacioso recado: "Você vai vêr! No 1º centenário, a festa é do Campinense". No caso, o centenário era de Campina Grande, mas o clube queria aproveitar para ser mais uma vez campeão paraibano.

Depois de uma campanha ruim no Torneio do Centenário de Campina Grande, em março, e de "naufragar" cinco meses depois para o Confiança, na segunda fase da Taça Brasil, finalmente o primeiro título da temporada.

A conquista foi no tradicional Torneio Início para o estadual, que em 1964, mais uma vez só terminou no ano seguinte.

O Campeonato Paraibano começou em julho e a imprensa fazia questão de destacar que se iniciava ali a "marcha do penta", numa espécie de previsão do que viria a acontecder.

"A equipe do Campinense Clube ganhou o primeiro compromisso da "marcha do penta", tendo como adversário o União de João Pessoa, no encontro disputado ante-ontem, à tarde, no Estádio Plínio Lemos, perante ótimo público", noticiou o Diário da Borborema, na terça-feira, dia 7 de julho de 1964, dois dias depois da vitória raposeira por 3 a 0, com gols de Araponga, Tião e Tonho Zeca.

 campinense 100 anos, Campinense, taça do penta (Foto: Acervo / Campinense Clube)Taça do Penta

No dia 21 de julho, no clássico contra o Botafogo-PB, mais uma vez no Municipal, a Raposa goleou o Belo por 4 a 0. Era a primeira grande prova de que aquele time poderia ir longe:

"Sem afobação, sem corre-corre, sem dar bolas ao "tico-tico" do Botafogo, o Campinense chegou à goleada de 4 a 0, em jogo válido pelo Campeonato Extra de Profissionais da Paraíba, temporada 64. E o que é mais interessante destacar-se: os dois adversários mais perigosos da Capital já mostraram que não aspiram muita coisa no certame, pois o União deixou de ser "favorito" logo na 1ª rodada", dizia a matéria do Diário da Borborema, em tom comemorativo e parcial, demonstrando que a crônica esportiva local queria muito que o título ficasse em Campina Grande no ano do centenário da cidade.

A Raposa atuou no clássico com Elias, Ivo, Zé Preto, Jásio e Janca; Tonho Zeca e Araponga; Tião, Irênio, Cocó e Abelardo. O Bota, comandado por Erivaldo Guerra, o popular Vavá, esteve em campo com Mirim, Joca, Valdo, Nereu e Orimar; Marajó, Berto e Zezinho (Celso); Bira, Tarcísio e Gago.

Entre 29 de outubro, uma quinta-feira, e 5 de novembro, na outra quinta-feira, Campinense e Treze se encontraram três vezes. Todos os dérbis acabaram empatados, sendo o último deles válido pela abertura do returno.

campinense 100 anos, Campinense x botafogo, time de 1964 (Foto: Acervo / Campinense Clube)

O Treze venceu o primeiro turno. No Municipal, após empate em 2 a 2, no dia 1º, o Galo largou com vantagem para a reta final do certame.

 Os jogos, mesmo não favorecendo ainda as pretensões rubro-negras, serviram para marcar a presença de Ticarlos e Ruiter no time titular da Raposa. Ambos, junto com Debinha, faziam parte do elenco do Confiança que eliminara a equipe paraibana da Taça Brasil meses antes. Essas contratações, consideradas pontuais pela diretoria da época, foram realmente fundamentais para o restante da caminhada.

- Fizemos um esforço e trouxemos Roberto (goleiro), Debinha, Ruiter e Ticarlos do Confiança. Fomos até Aracaju, acertamos tudo e eles já chegaram, inclusive, regularizados para estrear no clássico - relembra Lamir Motta, ex-presidente raposeiro.

De novo: a melhor de três

Quis o destino, para delírio da crônica esportiva e dos torcedores de Campina Grande, que o Campeonato Paraibano de 1964, ano do centenário da cidade, fosse disputado entre Campinense e Treze. 

O último jogo do segundo turno acabou 0 a 0, abrindo uma série de quatro jogos seguidos.

campinense 100 anos, ruitter em 1964 (Foto: Acervo / Campinense Clube)Ruiter, um dos nomes que chegaram para reforçar a 

O primeiro jogo da "melhor de três" teve como palco o Municipal Plínio Lemos. O árbitro escalado para o trio de pelejas foi o paulista Romualdo Arppi Filho, que pertenceu aos quadros da FIFA por 26 anos (1963 a 1989). E a vitória foi trezeana: 2 a 1, com gols de Adeildo e Braga, ex-defensor da Raposa, para o Galo.

Na partida número 2, no Presidente Vargas, sob o risco de deixar o penta escapar para o maior rival, a estrela do Campinense voltou a brilhar. O time raposeiro fez 2 a 1 e provocou o jogo extra, dessa vez no José Pinheiro. A luta foi realmente dramática, mas a vitória veio.

"Um campeão não poderia ser mais autêntico que o Campinense Clube. Isso não fere o Treze, não desmerece o "Galo da Borborema", não pode ser desdouro para um time que lutou também do começo ao fim dentro de suas características de jogo e, sobretudo, lealmente. Entretanto, não se conceberia o título máximo da Paraíba nas mãos de qualquer outro time que não fosse o Campinense", relatou, na terça-feira, dia 9 de fevereiro, o Diário da Borborema.

O texto segue com contornos dramáticos: "Eis o que vimos ontem à noite no Estádio Municipal Plínio Lemos. Um time com dez sendo superior a onze (...) Sem Zé Preto, como se poderá pensar ou exigir de um time que decidia o título? Eis que o Campinense despertou a si mesmo. Sentiu vontade de superar-se, revestiu-se de uma fibra exepcional a fim de partir para uma vitória que certamente ficará como um marco grandioso de um clube que já se fez grande e que continuará engrandecendo os esportes da Paraíba e do Brasil".

Sobre o jogo, o Treze abriu o placar logo aos 15 minutos do primeiro tempo, após cruzamento de Miruca e falha do goleiro Augusto. Adeildo aproveitou e fez 1 a 0. Ainda na etapa inicial, Aberlado Coca-Cola recebeu livre e deu um "tapinha" na saída de Valdemar, que ainda tocou na bola antes dela balançar as redes.

campinense 100 anos, Campinense x treze, time de 1964 (Foto: Acervo / Campinense Clube)Lance da final entre Campinense e Treze 

 

"Na vibração do próprio empate, o Campinense viu-se ameaçado de perder o título de Pentacampeão: o juiz surpreendeu todo o público ao expulsar o zagueiro Zé Preto e, alegando mais tarde uma agressão do jogador a um adversário após a consumação do empate. Não vimos e não podemos dizer", detalhou o DB.

Aos 20 minutos do segundo tempo, Zé Luiz explodiu o Municipal com o gol que deu "o justo galardão do pentacampeonato", como  grifou o jornal em termos para lá de cultos.

O carnaval, que aconteceria dali a um mês, foi antecipado. As cores rubro-negras tomaram conta da cidade a partir do Zé Pinheiro. O Campinense, além do inédito penta, era campeão do centenário da cidade.

Contudo, o capricho de um dirigente, a vaidade exacerbada advinda de uma mudança administrativa, quase estraga aquela festa. O destino queria insistir em evitar o penta. Astrogildo Neri não deixou. A conferir.

campinense 100 anos, Campinense, campeão de 1964 (Foto: Acervo / Diário da Borborema)